Por Escrito 1yp51
04 de maio de 2021
- Visualizaes: 4353
comente!
- +A
- -A
-
compartilhar
Depois da UTI, com Covid-19, me dei conta de que precisava reajustar o foco da minha vida 681k31
Entrevista com Erlon Lemos
Por Carlinhos Veiga
.jpeg)
Novos Acordes: Erlon, como voc contraiu o vrus?
Erlon Lemos: Penso que foi num encontro evanglico, em janeiro desse ano, numa programao que participei como msico. Depois fiquei sabendo que vrias pessoas saram infectadas desse mesmo evento. Mas, como havia ado a semana inteira em Belo Horizonte trabalhando e tendo contato com vrias pessoas, no posso dizer com toda certeza onde foi que fui infectado.
NA: Como foi a evoluo do quadro?
EL: Se fui infectado nesse evento que citei, ento isso aconteceu no domingo. Na quinta comecei a sentir a garganta arranhando. Depois evoluiu para mais sintomas, ao ponto de, no outro final de semana, eu estar com febre, tosse seca. No domingo eu continuei ando mal. Ento tentei uma consulta telefnica, num servio do meu plano de sade voltado especificamente para pessoas com sintomas do coronavrus. Consegui falar somente na segunda pela manh. A mdica que me atendeu disse para eu procurar uma unidade do meu plano de sade, fazer o exame e uma consulta presencial. O resultado do exame saiu na tera e deu positivo. Na consulta fui medicado e recebi a guia para fazer uma tomografia dos pulmes porque o raio X havia acusado apenas uma pequena alterao. Por um erro da guia no consegui marcar o exame imediatamente. Quando consegui marcar, o agendamento ficou para quarta pela manh. S que na tera comecei a sentir muita falta de ar. Voltei ao Pronto Atendimento e me colocaram no oxignio. Assim que a saturao voltou ao normal fui liberado para voltar para casa. Disseram que eu nem precisaria fazer mais a tomografia. Mas aconselhado por mdicos amigos, fiz o exame na quarta e o laudo acusou um comprometimento de 25% dos pulmes. Os mdicos ento decidiram me internar. Seria inicialmente algo para dois ou trs dias. Mas o quadro se agravou no hospital e na terceira noite, apesar do oxignio, eu estava com muita dificuldade de respirar. Por isso no quarto dia fui transferido para a UTI. E ali piorei bastante. Foram ao todo nove dias de UTI. Segundo um mdico que me acompanhou, o que aconteceu comigo foi um verdadeiro milagre, porque o meu quadro era muito complicado.
NA: E como foi na UTI?
EL: Foi horrvel. Eu estava cheio de fios monitorando o funcionamento dos meus rgos, estava com sondas. Me sentia muito fraco e extremamente cansado. Foram vrias noites acordado. E no podiam prescrever remdios para eu dormir porque o relaxamento prejudicaria ainda mais a minha respirao. Foram noites muito angustiantes. Na pior delas, me lembrei da histria de Bartimeu, mendigo que estava assentado na porta da cidade e que ficou sabendo que Jesus ava por ali. Ele ento clamou: Filho de Davi, tem compaixo de mim, tem piedade de mim. O povo dizia para ele se calar, mas ele cada vez gritava mais alto. Eu tentava dormir, no conseguia, ando mal sem poder respirar direito, com aquelas sondas, aqueles fios todos ligados. Escutava aquele monitor ininterrupto da UTI. A gente que msico sabe que aquele som estabelece um padro de tempo na sua cabea. E entre a emisso de um som e o prximo, apesar de estar consciente, eu tinha vises como um delrio. Era como se chegasse uma mensagem para mim com um link, como esses de whatsapp. Se eu conseguisse abrir o link nesse intervalo, entre um beep e outro, eu iria respirar. S que eu no conseguia clicar para abrir o link, por mais que tentasse. E logo vinha o outro beep. Aquilo era uma tortura psicolgica. Foi nesse contexto de desespero e cansao que eu me lembrei de Bartimeu e, como ele, comecei a clamar: Jesus, tem compaixo de mim, tem piedade de mim, Senhor. Com as poucas foras que me restavam eu ei a cantar louvores a Deus. Fiquei umas trs horas nesse clamor angustiante. Ento, depois desse tempo, totalmente esgotado, eu orei: Senhor, eu no consigo mais. Ento o Senhor me leva ou de alguma forma me tira daqui, porque eu no consigo mais. Aquele momento foi uma experincia muito marcante. Eu no fui tomado de um sentimento como se Deus estivesse ouvindo a minha orao, eu no escutei a voz audvel de Deus, mas tive uma constatao, uma certeza de Deus dizendo: voc realmente no consegue, mas fui eu quem te sustentou nessas ltimas trs horas. Sou eu quem te sustento.
NA: E voc chegou a ser intubado? O que aconteceu?
EL: Um mdico conhecido da minha famlia que trabalha em outra rea do hospital sempre que estava de planto ia at a UTI para me ver. Ele era o meu contato com a famlia. Numa manh, aps aquela terrvel noite de vises angustiantes e do meu clamor a Jesus, esse mdico veio me visitar. S que a visita naquele dia foi diferente. Na entrada ele tomou conhecimento do agravamento do meu quadro e que iriam me intubar nas prximas horas. Sem me dizer nada, chegou e simplesmente perguntou se poderia orar por mim. Eu disse que sim, e ele intercedeu por minha vida. Depois disse para eu ficar tranquilo, relaxar que tudo daria certo. E saiu. Somente depois que fiquei sabendo que a minha intubao j estava prescrita e pelo meu quadro, naquele exato momento, a possibilidade de bito era muito alta, em torno de 95%. Mas milagrosamente tudo mudou de repente e eu no fui intubado. Na noite seguinte o mdico amigo retornou UTI e me encontrou bem melhor. E para a sua surpresa eu estava dormindo. Foi a partir dessa sequncia de fatos que comeou a minha melhora. Aos poucos foram retirando as sondas, diminuindo a quantidade de oxignio. Fiz umas sesses no respirador e depois fiquei s na mscara; mais um pouco eu sa da mscara e fui para o cateter; depois precisei voltar por breve tempo para a mscara. Voltei ao cateter e foram diminuindo os nveis de oxignio gradativamente. Dali me levaram para o quarto e depois com dois dias tive alta. Voltei para casa no dia do aniversrio de 18 anos do meu filho mais velho.
NA: No que essa experincia mudou a sua vida?
EL: Nos ltimos trs anos a minha vida ou por uma mudana radical. Tenho visto muita coisa boa, um direcionamento de Deus. Nesse tempo entrei para o seminrio e estou cursando o terceiro ano com expectativas de uma ordenao pastoral. Essa experincia da doena veio para comprovar tudo o que Deus falou e tem feito na minha vida. A grande concluso que eu tirei foi que a gente perde muito tempo focando a nossa vida em coisas que so detalhes. Essas coisas so boas, lcitas, mas no tem a menor importncia. O nosso foco deve ser buscar o Reino em primeiro lugar, pregar o Evangelho, levar a verdade da Palavra de Deus s pessoas. Um minuto que voc perde com suas preocupaes e ansiedades, com o carro que quer comprar, com o dinheiro que tem ou no no banco, um minuto que voc perde deixando de lado o foco daquilo que verdadeiramente importante. Eu precisava reajustar o meu foco. Na UTI pouco importa se voc tem conta para pagar, se tem dinheiro no banco, se tem um carro. Voc no pensa na roupa que veste, no pensa na casa que mora... voc e Deus. Pronto! Obviamente voc pensa na famlia. Mas na UTI, voc e Deus.
Estando nessa situao de vale da sombra da morte eu recorri a Deus. Mas, e as pessoas que am por essa situao e no tem Deus? O que elas fazem? Deve ser desesperador. Ainda na UTI eu orei: Se o Senhor me tirar daqui eu no quero gastar mais nenhum minuto com aquilo que no vale a pena. Quero dedicar a minha vida para anunciar o Senhor queles que no te conhecem e tambm queles que te conhecem, mas que precisam ouvir novamente.
NA: Qual foi o impacto dessa experincia para o seu trabalho musical?
EL: Certamente vai impactar profundamente as minhas composies. Eu ainda no voltei a compor desde que voltei do hospital. Eu j estava, antes, num processo de criao de temas musicais para depois colocar letras. assim que normalmente componho. O alvo era gravar um EP. J tenho um estoque de temas prontos. Agora vou trabalhar as letras. Quero focar minha ateno nas verdades do evangelho que muitas vezes negligenciamos por causa das distraes que so colocadas diante dos nossos olhos. Esse ser meu foco daqui em diante.
Carlinhos Veiga pastor, msico e jornalista. colunista da seo Novos acordes da revistaUltimato.
>> Confira a edio de maio/junho da revista Ultimato: Ainda que a figueira no floresa - desalento e esperana na pandemia
Leia mais
04 de maio de 2021
- Visualizaes: 4353
comente!
- +A
- -A
-
compartilhar
QUE BOM QUE VOC CHEGOU AT AQUI. 3c2p5s
Ultimato quer falar com voc.
A cada dia, mais de dez mil usurios navegam pelo Portal Ultimato. Leem e compartilham gratuitamente dezenas de blogs e hotsites, alm do acervo digital da revista Ultimato, centenas de estudos bblicos, devocionais dirias de autores como John Stott, Eugene Peterson, C. S. Lewis, entre outros, alm de artigos, notcias e servios que so atualizados diariamente nas diferentes plataformas e redes sociais.
PARA CONTINUAR, precisamos do seu apoio. Compartilhe conosco um cafezinho.

Leia mais em Por Escrito g5u61

Opinio do leitor w2a3f
Para comentar necessrio estar logado no site. Clique aqui para fazer o ou o seu cadastro.
Ainda no h comentrios sobre este texto. Seja o primeiro a comentar!
Escreva um artigo em resposta
Para escrever uma resposta necessrio estar cadastrado no site. Clique aqui para fazer o ou seu cadastro.
Ainda no h artigos publicados na seo "Palavra do leitor" em resposta a este texto.
Assuntos em ltimas 1s2e6n
- 500AnosReforma
- Aconteceu Comigo
- Aconteceu h...
- Agenda50anos
- Arte e Cultura
- Biografia e Histria
- Casamento e Famlia
- Cincia
- Devocionrio
- Espiritualidade
- Estudo Bblico
- Evangelizao e Misses
- tica e Comportamento
- Igreja e Liderana
- Igreja em ao
- Institucional
- Juventude
- Legado e Louvor
- Meio Ambiente
- Poltica e Sociedade
- Reportagem
- Resenha
- Sessenta +
- Srie Cincia e F Crist
- Teologia e Doutrina
- Testemunho
- Vida Crist
Revista Ultimato 4q3o1f
+ lidos 4555x
- Esperana utilizvel
- Domingo da Igreja Perseguida (DIP) 2025 acontece dia 15 de junho
- Lamento. Rinaldo de Mattos (1934-2025)
- Viver e Ser programa da Sociedade Bblica do Brasil em favor de pessoas idosas
- O que esperar do papado de Leo XIV? Observaes de um protestante
- Dilogos de Esperana vai ouvir adolescentes
- A relao apaixonada dos evanglicos com Israel
- Reversos da vida
- Pais, acreditem em seus filhos!, pedem adolescentes
- Marcas bblicas na psicologia e na psiquiatria