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F e cincia: irms gmeas ou inimigas? 292d63

Timteo Carriker

O divrcio entre a f e a cincia, ou entre a fsica e a metafsica, marcou o fim da Idade Medieval e o incio do Iluminismo. No me entenda mal. Creio que este divrcio trouxe inestimveis benefcios para ambos os lados, mas no sem um alto preo. Assim como os divrcios so caracterizados por brigas, mal-entendidos, rotulaes preconceituosas ou at xingamentos de ambos os lados, a cincia e a teologia tambm sofrem de grande dificuldade de comunicao. Alm disso, com o amadurecimento da cincia, cresce a convico popular de que a ela pertence o campo dos fatos enquanto religio pertence o campo dos valores. Curiosamente, ao campo dos fatos se aplica a regra de singularidade e dogma. Isto , a respeito de determinado fenmeno, cientificamente falando, os fatos so nicos e, uma vez estabelecidos, se tornam dogmas. O inverso ocorre na percepo do papel da religio para quem relegado ao campo dos valores. Estes valores, no como fatos, so mltiplos e, por isso, culturalmente, no devem ser entendidos como dogmas universais, apenas ao gosto do fregus.

Digo isso a princpio apenas para ilustrar a dificuldade de intercmbio que historicamente existe entre estes dois paradigmas. Uma parbola vai ajudar (a primeira regra da teologia : se no souber a resposta, conte uma parbola!).

Em julho de 1979, na famosa Massachusetts Institute of Technology, em Cambridge, Massachusetts, igrejas do mundo inteiro, protestantes, catlicos romanos e catlicos ortodoxos, se reuniram (com o apoio do Conclio Mundial de Igrejas) para discutir o tema F e cincia num mundo injusto. O eminente astrnomo australiano Robert Hanbury Brown foi convidado para dar incio conferncia com uma definio de cincia e uma interpretao da sua natureza. Dois dos seus temas eram especialmente interessantes.

Comeando com uma definio clssica, ele descreveu como a industrializao da cincia -- sua aliana com instituies polticas e econmicas -- modificou a compreenso clssica como uma busca pela verdade objetiva e verificvel. Mesmo assim, como bom cientista que , Brown afirmou a importncia da objetividade e a verificabilidade para toda tarefa cientfica.

Ao mesmo tempo, Brown enfatizou que os conceitos cientficos so metforas e abstraes relacionadas a uma realidade essencialmente misteriosa. Disse ainda que, dentro da prpria cincia, h metforas e abstraes diferentes que podem ser consideradas complementares e no antagnicas. Com base neste ltimo ponto, ele argumentou que uma cincia devidamente modesta e a f podem ser vistas como respostas complementares aos mistrios ltimos da existncia.

Depois da palestra de Brown, houve duas reaes de conferencistas convidados. A primeira veio da cientista africana Matu Maathai, que era basicamente uma aprovao entusistica da cincia, mesmo com algumas ressalvas a respeito do perigo do abuso da cincia no terceiro mundo, especialmente para o aumento de armas de destruio.

A segunda reao veio do telogo e filsofo social brasileiro, Rubem Alves, ento professor da UNICAMP, atualmente psicanalista e meu vizinho. Com um tpico esprito brasileiro potico e brincalho, Rubem Alves deu sua resposta contando a seguinte estria:

Era uma vez um cordeiro que, amando o conhecimento objetivo, resolveu descobrir a verdade sobre os lobos. J sabia de muitos contos ruins sobre os lobos. Eram verdadeiros? Resolveu investigar em primeira mo. Ento ele escreveu uma carta para um lobo filsofo com uma pergunta simples e direta: O que um lobo? O lobo filsofo respondeu a carta explicando o que os lobos so: seus formatos, seus tamanhos, suas cores, seus hbitos sociais, seu pensamento etc. Pensou, entretanto, que era irrelevante falar dos seus hbitos alimentcios j que tais hbitos, de acordo com a prpria filosofia do lobo filsofo, no pertenciam essncia dos lobos. Pois bem, o cordeiro ficou to impressionado com a carta que resolveu fazer uma visita na casa do seu novo amigo, o lobo. Foi somente ento que aprendeu para sua infelicidade que os lobos tm uma fraqueza por churrasco de cordeiro.

Seria fcil confundir as personagens da parbola de Rubem Alves. Poderia imaginar que, para ele, o lobo representa o cientista puro e o cordeiro, o religioso. Tambm no seria difcil imaginar o contrrio. Porm, o prprio Rubem Alves explica: o lobo somos todos ns que pretendemos nos definir com objetividade e distncia pessoal. Os lobos so os cientistas, religiosos, polticos, economistas e at professores universitrios. Entretanto, o tom bastante negativo de Alves ilustra a difcil relao entre a cincia e a religio. Esta relao tnue tem uma longa histria que no possvel relatar adequadamente aqui. Porm, um relacionamento que no precisa ser -- e no -- o nico relacionamento possvel. Gostaria de propor outro, no de incompatibilidade entre lobo e cordeiro, mas do desconhecimento mtuo entre dois gmeos que so criados separadamente.

Eventualmente vemos na televiso a notcia de que dois gmeos, ou duas gmeas, que foram separados logo depois do nascimento se encontram dcadas depois. A alegria enorme, mas na prpria reportagem se percebe que os dois j so bem diferentes, devido no s a influncia de fatores psicolgicos que levam quaisquer irmos, gmeos ou no, a terem suas prprias personalidades, mas tambm devido criao em contextos totalmente diferentes. Talvez eu esteja exagerando na analogia, mas prefiro ver a f e a cincia como irms gmeas criadas separadamente. Deveriam ter mais em comum do que de fato tm, no idnticas, pela mesma razo que gmeos idnticos no so idnticos em sua personalidade. Fao esta fantstica afirmao de que a f, certamente a f crist, literalmente comea e termina com uma preocupao cosmolgica, uma preocupao que normalmente relegamos cincia. Enquanto isso, a cincia sem dvida est fazendo perguntas cada vez mais teleolgicas e estticas, que se referem finalidade e a beleza da realidade que se pode conhecer.

Leia a continuao deste artigo na prxima semana.


Timteo Carriker telogo, missionrio da Igreja Presbiteriana Independente, capelo dA Rocha Brasil e surfista nas horas vagas. autor de A Viso Missionria na Bblia e coordena diversos sites (e www.tim.carriker.com).

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