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25 de janeiro de 2013
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Uma igreja para a metrpole 6b5q5g
25 de janeiro, 459 anos da cidade de So Paulo (SP), a maior metrpole da Amrica do Sul e uma das mais populosas do mundo. Mas que desafios a pauliceia desvairada (agora tambm ps-moderna) de Mrio de Andrade traz igreja crist? Ainda possvel resgatar o senso de comunidade em grandes centros urbanos?
No artigo abaixo, Neuber Loureno discute a relevncia das comunidades crists em grandes centros urbanos. O texto foi publicado na revista Ultimato 336.

Nos ltimos 70 anos, temos vivido em uma cultura narcisista. Tudo nela gira em torno do eu. A estratgia de marketing das empresas sacralizou a autonomia do indivduo e podemos verificar isto em slogans do tipo: Fazemos tudo isto por voc; faa do seu jeito; voc tem que pensar no que melhor para voc. Isto nos levou a um beco sem sada. Vivemos em um tempo em que muitos eus se chocam e no compem um todo. Antes, vivem em um permanente estado de estranhamento.
Zygmunt Bauman, socilogo polons, no livro Amor Lquido, que aborda a fragilidade dos laos humanos na ps-modernidade, observa que o fato de sermos estranhos uns aos outros no contexto das cidades no algo indito; o ineditismo est em nos mantermos estranhos por um longo tempo e at mesmo perpetuamente.
Isto tem nos conduzido a um sentimento de solido sem precedentes em nossa histria. Perdemos o senso de comunidade, mesmo vivendo em cidades com tantas pessoas ao nosso redor. O contexto urbano, apesar da superpopulao, espao de solido.
A perda do senso de comunidade tem contribudo, entre outros fatores, para o despertamento espiritual no Brasil. Um pas que dormiu rural e acordou urbano experimenta profundos sentimentos de nostalgia e desorientao. Ainda assim, o dilema est posto. Por um lado, precisamos dos outros como do ar que respiramos, por outro, temos medo de desenvolver relacionamentos mais profundos, que nos imobilizem em um mundo em permanente movimento.
A Igreja de Cristo tem um papel singular a desempenhar no ambiente cultural da supermodernidade, especialmente nos contextos urbanos. Podemos ajudar as pessoas desvinculadas e desorientadas a ser comunidade. E isso pode ser feito ao sermos comunidade do reino para elas e com elas. Quando multiplicou os pes e os peixes (Lc 9.11-17), Jesus nos deixou algumas pistas para isto. No tanto pela realizao do milagre em si, mas por causa da ordem que deu aos discpulos: Dai-lhes vs de comer. Vejamos algumas dessas pistas:
Sair da zona de conforto
No Brasil, segundo dados do senso de 2010, 84% da populao vive nas cidades. Isto faz com que o contexto urbano se constitua, predominantemente, no ambiente da misso para ns, com todos os seus riscos e oportunidades. Trata-se de um ambiente cultural que no reconhece fronteiras, o que nos obriga a discernir e assumir a dinmica e as demandas do nosso tempo. Parte da nossa misso fazer uma hermenutica das nossas cidades. Diante disso, dai-lhes vs de comer significa pensar as demandas da misso de Deus a partir da lgica e da disponibilidade do Senhor Jesus. Isto implica para ns aprender a abrir mo da zona de conforto para assumir as demandas das pessoas em um ambiente que est em constante mudana. A Igreja do Senhor Jesus a nica organizao no mundo que existe, prioritariamente, para quem est do lado de fora.
Ser um lugar de refgio
Se quisermos continuar relevantes, precisamos ver as multides das cidades como um rebanho sem pastor. Precisamos reaprender a molhar os nossos olhos, movidos por compaixo. As cidades venderam o sonho da ampla realizao e se tornaram um ambiente da privao. No basta uma palavra contra a fome, preciso tambm multiplicar o po. A ordem : Dai-lhes vs de comer. Alm da fome de po, h outras fomes em nossas cidades. H fome de segurana, identidade, sentido, cooperao e tica. Assim, dai-lhes vs de comer significa ser comunidade de f, que est em permanente dilogo com o nosso tempo; comunidade de vida, na qual o compromisso em preservar, restaurar e proclamar a vida, em todos os contextos e em nome do Senhor Jesus, sua obsesso; comunidade de servio, na qual as necessidades, as dores e as perplexidades so acolhidas.
Ser um agente de humanizao
Na modernidade, mecanicidade. Na ps-modernidade, virtualidade. Na comunidade do reino, humanidade. Nossas cidades esto cheias de pessoas que perderam o rosto. Quem consegue se inserir no mercado de consumo ganha certa visibilidade. Porm, quem fica margem se torna massa amorfa. Jesus nos ensina o valor intrnseco do ser humano ao reconhecer o po como um direito. Se h fome, seja do que for, nossa ao visa no apenas saciar um desejo, um capricho, mas atender um direito. Quando estendemos a mo para saciar a fome de uma criana, no o fazemos por benemerncia, mas como comunidade do reino, que reconhece o direito que o ser humano tem ao po. Dai-lhes vs de comer significa ser comunidade do reino -- um lugar para recuperar o significado de se ser humano e se realizar como humano: de dar e receber, crescer e construir humanidade semelhana de Cristo.
O corpo de Cristo uma das metforas encontradas nas Escrituras Sagradas para se referir Igreja. H tempos a igreja evanglica brasileira est com as mos e os ps amputados, e tem sido apenas boca. Acredito na igreja como uma comunidade chamada no apenas para falar, mas para compartilhar, amar, ajudar, construir e lidar com questes como pobreza, violncia, analfabetismo, abandono, doenas, violncia, vazio espiritual. Estas mazelas esto engolindo a vida de muitas pessoas. Precisamos ser uma comunidade de muitos eus interdependentes, que so boca, mas tambm, mos, ps, ouvidos, olhos e, principalmente, um corao que pulsa no ritmo da graa de Deus.
Nota
1. BAUMAN, Zygmunt. Amor lquido; sobre a fragilidade dos laos humanos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004.
______________
Neuber Loureno pastor snior da Igreja Batista da Orla de Niteri.
Leia mais
Uma igreja para a cidade (Jorge Henrique Barro)
Mega, mdias e pequenas igrejas: o desafio o mesmo (James Gilbert)
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