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11 de junho de 2012
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Uma cano no deserto 5l5l

O deserto possivelmente uma das mais claras representaes da ausncia de vida e esperana. Bedunos e Tuaregues - povos do deserto - desenvolveram milenares tcnicas de sobrevivncia para resistirem angustiante mistura de sol, calor e areia. Anos atrs atravessei a parte ocidental do Saara e, apesar do costume a temperaturas tropicais, nada me preparou para os 54 graus sombra durante aquelas tardes. Lembro-me que o pensamento mais obsessivo e recorrente era simplesmente gua, o elemento mais desejado em terras ridas.

Davi escreveu o Salmo 63 no deserto de Jud enquanto fugia de Saul. Encontrava-se em um dos momentos mais constrangedores de sua vida. Alm de estar no deserto, tomado pelo desconforto e temores natos ao ambiente, seu povo e rei o perseguiam.

Contrariando a natural tendncia do descontentamento de corao perante as caminhadas desrticas, Davi revela, ali mesmo na areia, que a sua alma tinha sede de Deus. Este parece ter sido o mais paradoxal pensamento que ou pela mente do salmista: a sede de Deus era maior que a sede de gua. A busca pela presena de Deus era mais forte que qualquer outra carncia humana.

Quando em caminhadas solitrias e perseguidos pelos que antes eram mais chegados que irmos, precisamos nos conscientizar desta verdade transformadora: precisamos mais de Deus em nossas vidas do que gua no deserto. C.S. Lewis nos diz que o amor o princpio da existncia, e seu nico fim. Com isto nos incita a pensar que o amor no apenas o meio, mas tambm o propsito final. Somos convidados, em toda a caminhada crist, a andar de forma paradoxal, em expresses de amor: perder a vida para ganh-la; oferecer a outra face a quem nos fere; esperar contra a esperana; amar, e no odiar os inimigos; perdoar, mesmo perante bvias razes para a amargura; desejar mais a Deus do que a gua, mesmo quando se vagueia, foragido, por entre terras mais secas.

nesta caminhada que encontramos descanso verdadeiro. Davi no apenas fala da possibilidade de descanso em Deus, mas o experimenta. Os principais verbos nos versos 6 a 8 esto no presente. Davi se lembra, pensa e canta o descanso em Deus enquanto caminha - no apenas o planeja faz-lo amanh. Reconhecer que a presena de Deus melhor que a vida parece ser o exerccio mais transformador de mente, corao e viso de mundo - que qualquer pessoa possa experimentar.

Somos amados por Deus e este fato deveria ser definidor em como vemos a vida e o mundo ao nosso redor. Ser amado por Deus entender que somos convidados a um relacionamento eterno, perceber que estamos em lugar seguro e saber que no h nada melhor.

A construo desta cano do deserto revela a alma de Davi. No verso 1 ele expressa que tinha sede de Deus. Nos versos 2 a 5 ele louva a Deus pelo Seu amor, que melhor que sua prpria existncia. Nos versos 6 a 8 Davi descansa no Senhor e finalmente nos versos 9 a 11 ele declara sua confiana na vitria sobre os inimigos.

Encontro-me rotineiramente com pessoas que, semelhana de Davi, experimentam a solido do deserto, o constrangimento da fuga e a incerteza de no saber para onde ir. A vida nestas horas torna-se mais lenta, opaca e pesada. Porm, justamente em momento assim a presena de Deus nos convida a crer um pouco mais, e nos encoraja a continuar caminhando. Em um relance olhamos para trs e percebemos que no ado o Senhor foi fiel, mesmo no dia mais escuro. Amanh no ser diferente. A presena de Deus sempre trs memria o que pode nos dar esperana.

Lutero, citado por C. J. Mahaney em seu livro Glory do Glory, nos diz que: esta vida, portanto, no justia, mas crescimento em justia. No sade, mas cura. No ser, mas se tornar. No descansar, mas exercitar. Ainda no somos o que seremos, mas estamos crescendo nesta direo. O processo ainda no est terminado, mas vai prosseguindo. No o final, mas a estrada. Todas as coisas ainda no brilham em glria, mas todas as coisas vo sendo purificadas

Que o Senhor se mostre presente em nossas vidas. Nestes dias o deserto se tornar lugar de alegria e descanso.

O xodo cristo

A espiritualidade na prtica

Ronaldo Lidorio

Ronaldo Lidrio telogo e antroplogo, missionrio (APMT e WEC) entre grupos pouco ou no evangelizados. organizador de Indgenas do Brasil -- avaliando a misso da igreja e A Questo Indgena -- Uma Luta Desigual.

Textos publicados: 50 [ver]

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