Por Escrito 1yp51
31 de dezembro de 2020
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Surpreendidos pela graa de Deus no enfrentamento da Covid-19 na ndia 3u4t5
PorGeorge Mathew

Eu sou o mais velho entre trs mdicos em um pequeno hospital chamado Shanti Bhavan Medical Center, em uma vila chamada Biru, situada no estado de Jharkhand, na ndia. Lidero uma equipe de quatro mdicos dois mdicos experientes, incluindo eu (tenho quase 70 anos) e dois jovens mdicos recm-sados da faculdade.
Somos o nico hospital de nvel secundrio em um raio de 70-80 quilmetros, e para uma unidade com UTI no h mais ningum em 100 quilmetros. Os centros maiores mais prximos esto em Ranchi e Rourkela mais de 100 quilmetros e um mnimo de 3-4 horas de viagem rodoviria de distncia.
Ao redor do hospital, h pequenos vilarejos habitados predominantemente por tribos. A populao local est envolvida na agricultura marginal, alm da coleta de produtos florestais. A atividade agrcola ocorre apenas durante a estao das chuvas. Quando no h cultivo, os homens migram principalmente para os estados vizinhos como trabalhadores, deixando para trs idosos, crianas e mulheres. Portanto, nosso hospital existe entre uma populao muito marginalizada.
O alcoolismo alarmante entre ambos os sexos, independentemente da idade, e somado a isso h uma alta taxa de analfabetismo. As pessoas so to pobres que muitas vezes no conseguem pagar nem mesmo o custo mnimo do tratamento. Esta instalao com 60 leitos bem equipada, mas com falta de pessoal. Lidamos com uma ampla gama de emergncias, como picadas de cobra, envenenamento, infarto agudo do miocrdio e malria cerebral. Tambm gerenciamos todos os tipos de trauma, incluindo traumatismo craniano, trauma mltiplo e ferimentos devido a ataques de faca.
Ao receber a ordem governamental, minha primeira reao foi de pnico, pois no tnhamos todos os recursos de que precisvamos. No havamos preparado nenhuma de nossas instalaes para cuidar de pacientes com Covid-19. Depois, havia a preocupao com a segurana de nossa equipe no apenas por mim, porque estou perto dos 70, mas tambm por outras pessoas que esto na casa dos 40 e 50 anos.
Eu estava para conseguir obter protocolos relativos ao gerenciamento da Covid-19. Por estarmos isolados da comunidade mdica principal/central, era difcil para a gente obter informaes confiveis e autnticas. J havia medo criado nas mentes de todos os nossos funcionrios por causa do que foi divulgado nas plataformas de mdias sociais. Somado a isso, havia o impacto da quarentena nacional, sem lojas, suprimentos ou transporte. Parecia que amos atravessar um tnel escuro sem saber aonde nos levaria.
Mas quase no havia tempo para pensar, pois tnhamos de comear a trabalhar logo. No tnhamos EPI e eles no estavam disponveis em nenhum lugar. No tnhamos medicamentos especficos e nossos fornecedores foram fechados. Ento, foi como entrar em uma batalha sem armadura em nossos corpos e sem armas em nossas mos.
Usamos todos os recursos para preparar o EPI. No havia nenhum que pudesse ser comprado localmente. Apesar de todas essas dificuldades, a equipe foi estica e cooperou de corao. Pegamos dinheiro emprestado e compramos qualquer material que pudssemos conseguir nas lojas locais. Em seguida, projetamos nosso prprio EPI equipamento de proteo costurado mo com todos contribuindo. Compramos p de descolorao, preparamos uma soluo de hipoclorito e coletamos lcool industrial para higienizadores de mos. Tudo o que julgamos necessrio para tratar os pacientes com Covid-19, improvisamos. Fizemos nossas prprias mscaras de tecido de quatro camadas e convertemos folhas de plstico em aventais e galochas em calados de proteo.
Ento comeou uma cascata de problemas com os quais nunca tnhamos sonhado. Como um hospital Covid-19, no tnhamos permisso para atender nenhum paciente de rotina no Covid-19. Assim, nossa principal fonte de renda desapareceu repentinamente. Nossas reservas se esgotaram e ficamos reduzidos a uma existncia cotidiana precria, sempre preocupados com de onde viriam os meios de sobrevivncia do dia seguinte.
Para agravar tudo isso, havia o enorme estigma social associado ao fato de sermos um hospital para coronavrus. Muitos de nossos funcionrios que vinham de vilarejos prximos foram impedidos de trabalhar porque eram suspeitos de transportar o vrus de volta para seus bairros. Eles foram proibidos de tomar banho no lago da aldeia ou de chegar perto de qualquer poo de gua e foram orientados a no se aproximar da igreja ou das lojas locais. Muitos deles foram ameaados de violncia se persistissem em vir trabalhar no hospital. O estigma da Covid-19 to profundo na comunidade que nossa equipe quase foi excluda em suas aldeias. A interveno da polcia local no teve muito efeito. Ento, ns os levamos para o hospital e lhes demos acomodao temporria e alimentao. Isso nos deixou cada vez mais endividados, pois tnhamos que pedir mais emprstimos para suprimentos e alimentos.

Oramos juntos todas as manhs e noites, suplicando a Deus que nos guiasse. Ficamos de mos dadas, prometendo cuidar uns dos outros, mesmo se adoecssemos. A convico cresceu em ns, lenta mas seguramente, de que podemos fazer coisas com a ajuda de Deus, apesar dos problemas aparentemente intransponveis que enfrentamos.
Comeamos com o que tnhamos quando os primeiros pacientes chegaram. Iniciamos com a firme confiana de que Deus estava conosco nesta jornada conturbada. Nos sentimos ligados a Deus e uns aos outros quando comeamos a cuidar dos pacientes infectados com Covid-19. Nunca deixamos de nos encontrar todos os dias para orar e apoiar uns aos outros. Pela graa de Deus, conseguimos obter medicamentos dos suprimentos do governo.
O estado de Jharkhand estava enfrentando um enorme fluxo de trabalhadores migrantes voltando de outros estados e temamos que uma enxurrada de casos Covid-19 estivesse a caminho. Nossos temores foram provados corretos quando muitos dos trabalhadores que retornaram estavam infectados. Eles logo comearam a chegar nossa porta homens, mulheres grvidas e at crianas. Eles chegaram exaustos, desidratados e s vezes morrendo de fome. Cada um deles tinha uma histria angustiante sobre dificuldades inimaginveis pelo caminho. Eles chegaram com nada alm do que estavam em suas costas sem muitos bens materiais, sem dinheiro e sem documentos. Alm de tudo isso, estar infectado com a Covid-19 foi o pior de seus sofrimentos.
O que comeou como um gotejamento tornou-se uma inundao. Ao mesmo tempo, tnhamos 40 pacientes positivos para Covid-19 na enfermaria, incluindo mulheres grvidas e uma criana de trs anos. Todos eles tiveram que ser alimentados e cuidados.
Apesar de todos os desafios, ns os tratamos com cuidado e compaixo, sem comprometer a segurana da equipe. Asseguramos que eles fossem alimentados com comida nutritiva e tivessem um tempo de descanso. Era muito evidente que eles no podiam esquecer facilmente o trauma de sua jornada. Estvamos muito preocupados com as mulheres grvidas e as crianas. ramos apenas alguns mdicos e enfermeiras, mas trabalhvamos sem parar, apesar de nossos temores de segurana e nosso cansao fsico. Foi uma tarefa difcil para uma pequena comunidade como a nossa.
Foi difcil convencer uma criana de trs anos a no sair do confinamento de seu quarto. Para muitos deles, especialmente as crianas, deve ter sido uma experincia assustadora o isolamento estrito e os trabalhadores mdicos cuidando deles com roupas estranhas, sem seus rostos nem suas expresses claramente visveis.
Em um ponto, pensamos que havia chegado ao fim de nossos recursos e determinao. Fomos forados ao limite por dinheiro, poder material e humano. Eu no estava orgulhoso de estar neste estado e estava extremamente angustiado por pedir aos funcionrios que colocassem suas vidas em perigo sem poder pagar-lhes um salrio mnimo. Eu no tinha mais orgulho de mim mesmo para fingir que poderamos viver por conta prpria. Oramos fervorosamente para que Deus encontrasse uma maneira de continuarmos caminhando fielmente e de servi-Lo, apesar das probabilidades aparentemente intransponveis.
Ento, na hora certa, muitos dos meus professores, colegas, ex-alunos, ex-colegas e estudantes entraram em cena com suas ofertas de apoio. Por meio de algumas dessas conexes, muitas portas de generosidade se abriram, alm dos meus sonhos mais impensveis.
O que comeou como um gotejar de doaes, logo se tornou uma torrente de bnos. Isso trouxe presentes em dinheiro para pagamentos de materiais, EPIs, medicamentos, bem como despesas com alimentao para todos ns. Isso nos garantiu nossa segurana e proviso para nossas necessidades imediatas. Eu poderia dormir tranquilo depois de ar noites sem dormir me preocupando em atender s necessidades do dia seguinte.
At agora, tratamos 173 pacientes incluindo casos positivos para Covid-19 e casos suspeitos de Covid-19. Todos os casos confirmados tornaram-se negativos, tiveram alta e foram bem encaminhados para casa. No houve mortalidade. Toda a nossa equipe est segura e ningum foi infectado at o momento. Tudo isso foi possvel pela graa de Deus, bem como pela bondade e apoio de tantos ligados ao Christian Medical College Vellore, minha alma mater.
A luta continua. Mas acreditamos que no estamos sozinhos neste canto esquecido da ndia, travando uma luta solitria contra esse inimigo invisvel. Deus tem estado conosco constantemente. Ns sobrevivemos at agora com Graa, Coragem e Gratido a graa de Deus e tantas pessoas conectadas aos meus dias na faculdade de medicina; a coragem de nossa pequena equipe, que ficou firme comigo persistentemente, apesar de suas frustraes e exausto; gratido a Deus por sua imensa misericrdia em nos manter seguros e s nossas famlias e amigos por seu apoio e oraes constantes.

Mas para ns, como cristos, a firme convico que nossos tempos esto nas mos do Senhor, como est escrito em Isaas 43:1-2: Mas agora assim diz o Senhor, aquele que o criou, Jac, aquele que o formou, Israel: No tema, pois eu o resgatei; eu o chamei pelo nome; voc meu. Quando voc atravessar as guas, eu estarei com voc; e, quando voc atravessar os rios, eles no o encobriro. Quando voc andar atravs do fogo, voc no se queimar; as chamas no o deixaro em brasas. (NVI)
Ns, como uma pequena equipe de trabalhadores de sade cristos em um canto remoto e isolado da ndia, podemos testemunhar que essa promessa verdadeira enquanto continuamos a testemunhar nosso Salvador servindo aos aflitos pela Covid-19 nessas circunstncias difceis e provadoras.
George Mathew o diretor mdico do Shanti Bhavan Medical Center, na vila de Biru, distrito de Simdega, estado de Jharkhand, ndia.
Oua um recente webinar (em ingls) do Dr. Mathew enquanto ele descreve com mais detalhes como enfrentar a Covid-19 em um local remoto e com poucos recursos.
>> Conhea o livro Capelania Hospitalar e tica do Cuidado, de Maria Luiza Rckert
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