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Opinio 1l3n6q

Os cristos e o politicamente correto 515o6x

Por Paul Freston e Raphael Freston

O cristo no deve ser politicamente correto (PC). E o cristo no deve ser anti-politicamente correto (anti-PC). O cristo deve ser anti-anti-politicamente correto (anti-anti-PC).

A liberdade de expresso um dos direitos mais fundamentais do ser humano, sem o qual os outros direitos se tornam impossveis ou difceis de se exercer. Sem a liberdade de expresso, no h como navegar pacificamente a extrema diversidade de experincias humanas; no h como desenvolver a boa governana; e no h como reconhecer e responder verdade em todos os campos, inclusive o religioso. Este ltimo ponto era reconhecido pelos grandes autores cristos da Antiguidade (antes da guinada para a represso que comeou no final do sculo 4). Por exemplo, o grande telogo Gregrio Nazianzeno disse: No considero boa prtica coagir as pessoas em vez de persuadi-las. Tudo que feito contra a prpria vontade como um rio represado por todos os lados.

A liberdade de expresso constantemente ameaada pelo poder poltico e pelas tenses sociais. Estas tm aumentado sensivelmente num mundo que se globaliza aceleradamente. Sobretudo com a migrao e com a internet, o mundo inteiro se torna o nosso vizinho, ou, em termos bblicos, o nosso prximo. As redes sociais tm facilitado a divulgao de casos (verdicos ou no) de constrangimentos sociais sobre a livre expresso das ideias e dos sentimentos. Ao mesmo tempo, grupos sociais h muito tempo reprimidos ou negligenciados encontram maior espao para se afirmarem. Para as tenses no transbordarem desastrosamente, incentiva-se o uso de uma linguagem mais ponderada e respeitosa, mais sensvel ao dano que pode causar autoimagem e aos direitos fundamentais dos outros, buscando evitar os retratos caricatos e a ofensa desnecessria. Afinal, o direito de ofender no significa o dever de ofender. Nem tudo que legal, moral.

aqui que surgem as controvrsias sobre o politicamente correto. No vamos entrar no debate se o politicamente correto, o PC, de fato existe. Se muitas pessoas acham que existe, essa percepo importante. Quanto oposio ao politicamente correto, o anti-PC, no h dvida de que existe. um fenmeno crescente, com consequncias polticas cada vez mais evidentes.

De um lado, temos de reconhecer que ningum se autointitula politicamente correto. Somente se acusa o outro de s-lo. Por isso, alguns autores sugerem que o PC no existe; existe somente o anti-PC. De fato, o termo politicamente correto se popularizou (em ingls primeiro) por volta de 1990 no na boca dos seus supostos adeptos, mas, sim, na boca dos seus crticos. Ou seja, para alguns autores, o fenmeno PC praticamente nasceu com a campanha anti-PC. A pr-histria (antes de 1990) do PC seria apenas como um discurso meio jocoso contra o dogmatismo excessivo ou contra a autojustificao farisaica.
Por outro lado, o anti-PC no construdo do nada. Pode ser que o PC seja um homem de palha, um espantalho, um recurso argumentativo que cria um opositor caricato e absurdo para facilitar a vitria no debate. Mas espantalhos so criados em cima de alguma tendncia real, embora caricaturando-a, exagerando-a. O anti-PC no deixa de apontar para uma verso moderna do farisasmo.

Mesmo assim, o discurso anti-PC tipicamente rene algumas caractersticas. Primeiro, o exagero e a generalizao: parte de anedotas para construir um fenmeno generalizado. Depois, a acusao. O discurso anti-PC acusa o outro de agir com m-f, de ter motivos inconfessveis, de esconder a verdade para avanar uma agenda. Acusar algum de estar sendo politicamente correto dizer no somente que est errado, mas tambm que mal-intencionado; ou, ento, que inocente til nas mos daqueles que querem tomar conta de instituies-chave como a poltica, a academia e a mdia.

Outra caracterstica a autovitimizao. Quem maneja o discurso anti-PC frequentemente se retrata como oprimido, ora como vtima indefesa de foras ocultas, ora como heri da resistncia a essas mesmas foras.

Finalmente, o discurso anti-PC a antipoltica, pois busca silenciar o debate srio das ideias, preferindo a desqualificao do adversrio.

Donald Trump manejou com maestria essas caractersticas do discurso anti-PC. Eles [Obama e Hillary Clinton] colocaram o politicamente correto acima do bom senso, acima da segurana da populao, acima de tudo. Mas eu me recuso a ser politicamente correto, disse Trump aps a chacina numa boate na Flrida. Repetidamente, Trump culpou o politicamente correto por uma srie de problemas sociais e usou o discurso anti-PC para justificar seus comentrios chocantes sobre mulheres, imigrantes, latinos, muulmanos... Apresentava-se ao mesmo tempo como perseguido e como heri. A sua grosseria e insensibilidade seriam, na realidade, a coragem heroica de um perseguido, e no a baixaria de um demagogo.

Se o PC, na medida que existe, uma manifestao contempornea do farisasmo contra o qual se insurgiu Jesus, a realidade que hoje em dia h muito mais ativismo anti-PC. Quando se trata de cristos, o sentimento anti-PC muitas vezes reflete a tenso permanente entre pecar com a lngua e falar a verdade em amor.

Mas, infelizmente, o discurso anti-PC, mesmo quando fala a verdade, no transmite exatamente o amor. E muitas vezes apenas externaliza sentimentos vis, os quais, em vez de serem expressos em pblico, deveriam ser confessados em orao, pedindo a cura de Deus.

No fundo, muitas normas que poderiam ser chamadas (xingadas) de politicamente corretas existem por causa de uma realidade humana que os cristos, teoricamente, reconhecem diariamente: a existncia e ubiquidade do pecado; neste caso, o pecado de deixar aflorar certas opinies e atitudes que o cristo deveria ter vergonha de sentir. Por outro lado, quem cr que a total falta de controle sobre a expresso dos sentimentos equivale honestidade e deve ser encorajada, doa a quem doer, no acredita (supe-se) na realidade do pecado.

Nada mais distante da viso bblica do uso responsvel da lngua, sem falar da viso bblica da igualdade humana e da universalidade do conceito de prximo (todo o mundo) e da regra de ouro (faa aos outros o que voc quer que faam a voc [Mt 7.12]). E sem falar do comportamento de Jesus. Como em tantas outras dimenses, Jesus inverteu as expectativas dos religiosos de sua poca, mas no pelo destempero verbal contra os indefesos e vulnerveis e marginalizados, como os politicamente incorretos de hoje. O destempero verbal de Jesus proporcional ao poder real (poltico, ou religioso, ou social) exercido pelo alvo da sua crtica: o governante raposa, os lderes religiosos so sepulcros caiados. Para Jesus, quanto mais vulnervel o grupo ou pessoa, maior a nossa responsabilidade de evitar ofend-lo; no na sua sensibilidade exagerada, mas na sua condio de imagem de Deus (ao menor destes... [Mt 25.40]).

Os cristos devem precaver-se da atrao pelo destempero e pelas opinies agressivas de algumas correntes polticas ao redor do mundo hoje. O esprito de Jesus (tanto no seu uso da linguagem como na sua viso do reino invertido) pouco ou nada tem a ver com essa atrao. No sejamos como as pessoas que se fascinam com o poltico (ou melhor, o poltico que se apresenta como o antipoltico) que fala grosso. Lembremos que, segundo o apstolo, quem aprova um ato vil at pior do que quem o pratica (Rm 1.32).

Nosso chamado como cristos no ser PC (que, na melhor das hipteses, representa apenas o atual estgio do preconceito), nem anti-PC, mas buscar entender cada vez mais o alcance estupendo da revelao de Deus em Cristo e as suas implicaes para a nossa viso do ser humano. Uma pequena ilustrao disso: h alguns anos, um de ns fez uma apresentao sobre pentecostalismo e migrao internacional num simpsio acadmico. Assim que terminou, a primeira reao da plateia foi de um estudioso holands, um dos mais respeitados no campo da sociologia da religio, que disse com desdm: Onde quer que haja pentecostais, h problemas. No houve reao do grupo. Mas podemos imaginar qual teria sido a reao se ele tivesse falado no de pentecostais, mas de judeus ou de muulmanos. Teria havido, sem dvida, uma reclamao ou, no mnimo, um suspiro audvel de desaprovao. Mas ainda aceitvel dizer certas coisas sobre pentecostais que no so mais aceitveis dizer (graas a Deus) a respeito de muulmanos ou judeus. E isso acontece apesar do fato de que a grande maioria dos pentecostais ao redor do mundo so relativamente pobres, no brancos e mulheres, categorias que o politicamente correto deveria proteger.

Esse incidente ilustra a ideia do estgio atual do preconceito. E a reao crist, nos parece, no de querer que seja, mais uma vez, legtimo falar desrespeitosamente de pobres, no brancos, mulheres, judeus e muulmanos, mas que o mesmo respeito seja demonstrado aos pentecostais (seja qual for seu gnero, cor ou condio econmica), como tambm a todos os seres humanos, portadores sem exceo da imagem divina.

Nota:
Texto publicado originalmente na seo "tica" da revista Ultimato, edio 365.

Paul Freston
, ingls naturalizado brasileiro, professor colaborador do programa de ps-graduao em sociologia na Universidade Federal de So Carlos e professor catedrtico de religio e poltica em contexto global na Balsillie School of International Affairs e na Wilfrid Laurier University, em Waterloo, Ontrio, Canad.

Raphael Freston mestrando em sociologia na Universidade de So Paulo.

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