O milagre do encontro entre refugiados com aqueles que os acolhem com amor 3l1u5r

H no Brasil um verdadeiro exrcito que no se permite retroceder frente aos desafios migratrios

Por Dbora Llia dos Santos Fahur

A crise humanitria no mundo atingiu, em 2024, um nmero expressivo de 120 milhes de pessoas homens, mulheres e crianas, que representam 40% desse contingente. Cada vez mais se acumulam naufrgios de embarcaes com migrantes da frica e do Oriente Mdio rumo Europa, resultado de guerras, conflitos, fome, desastres climticos e perseguies tnicas e religiosas.

A crise migratria levou pessoas de diferentes pases a se deslocarem foradamente para o Brasil, como srios, venezuelanos, angolanos, haitianos, ucranianos, afegos, palestinos e outros. Segundo o SISMigra e o SISCONARE (01/07/2024), h no Brasil mais de 790 mil pessoas em necessidade de proteo internacional, incluindo mais de 140 mil refugiados reconhecidos, 75 mil solicitantes de refgio e 10 aptridas.

A crise no Aeroporto Internacional de Guarulhos tornou-se um retrato visvel da crise humanitria mundial, afetando diretamente a poltica migratria brasileira. Inicialmente, o fluxo de pessoas do Afeganisto aumentou, seguido por migrantes do sudeste asitico, principalmente da ndia, e do continente africano, todos requerendo o reconhecimento do status de refugiado. Infelizmente, houve a morte do jovem gans Evans, de 39 anos, vtima de uma infeco grave.

A Associao CASA, que atua no atendimento a migrantes e refugiados, foi acionada em 2022, quando se deflagrou a primeira crise no aeroporto de Guarulhos. Por meio da Portaria o governo brasileiro emitiu 7 mil vistos humanitrios para afegos que fugiram do regime talib e desembarcaram no Brasil. A maioria eram homens, mas haviam tambm mulheres e crianas, que fizeram do aeroporto da maior cidade brasileira seu local de moradia. As condies insalubres de habitao e de higiene favoreceram a propagao da escabiose, popularmente conhecida como sarna. Centenas de pessoas se amontoavam em colches e tendas improvisadas com suas prprias roupas.

O Ministrio da Justia, o Ministrio Pblico, as Prefeituras de Guarulhos e So Paulo, alm de organismos internacionais como o ACNUR e a OIM, realizaram aes conjuntas diante dessa situao emergencial. A sociedade civil se mobilizou rapidamente, com um grande nmero de voluntrios que doaram alimentos, frutas, leite em p, fraldas, absorventes higinicos, colches, cobertores, entre outros itens de subsistncia.

Foi nesse contexto que uma reunio de emergncia foi convocada, com a participao das seguintes organizaes: Aliana Evanglica, Associao CASA, Como Nascidos Entre Ns, FEPAS, Rede IBAB Solidria, RENAS, Sociedade Bblica Internacional, Tearfund e Viso Mundial. O objetivo foi criar um Coletivo de organizaes da sociedade civil e igrejas crists evanglicas para discutir formas de ajudar.

Diante da complexidade da situao, ficou claro que, para oferecer acolhimento respeitoso, intervenes eficazes e garantir a dignidade humana, era essencial saber quem j estava envolvido e o que estava sendo feito.

A ideia de realizar uma pesquisa foi se estruturando, com o propsito de preencher uma lacuna de informaes claras e precisas, permitindo que, a partir dela, tanto igrejas e organizaes quanto migrantes e refugiados tivessem o de forma simples e rpida aos servios e atendimentos disponveis.

Com vistas s aes emergenciais no Aeroporto de Guarulhos, o Coletivo das organizaes da sociedade civil e igrejas crists evanglicas, entre outros objetivos, trabalhou para fortalecer, encorajar e capacitar a sociedade civil, representada por pessoas, organizaes, igrejas e movimentos que vinham desenvolvendo trabalhos relevantes no acolhimento de famlias afegs no Brasil.

Naqueles dias, testemunhamos um movimento intenso de misericrdia, promovido por organizaes e igrejas crists evanglicas. Era o movimento do amor de Deus, expresso por meio da orao constante, do abrao acolhedor e das palavras de esperana.

Com carros, vans e nibus, elas chegavam ao aeroporto de Cumbica, retirando 10,20, 50 a 100 pessoas de cada vez. Essas iniciativas proporcionavam acomodaes dignas, alimentao abundante, aulas de portugus, lazer para as crianas e o apoio de mediadores culturais, sempre com respeito cultura afeg. Vrias igrejas e organizaes da sociedade civil se uniram, mobilizando-se para garantir o acolhimento institucional dessas famlias.

Esse mesmo coletivo, em 2022 apoiou ativamente a realizao do VI Frum Refugiados pela Associao CASA, no qual foi oferecida uma capacitao especfica para igrejas e organizaes que atendiam afegos, venezuelanos, haitianos, angolanos, ucranianos, entre outros.

Diante do expressivo cenrio de aes em diferentes estados e com diferentes nacionalidades, o ACNUR Alto Comissariado das Naes Unidas para Refugiados ofereceu apoio tcnico para a concretizao do que se denominou: Mapeamento das Organizaes e Igrejas Crists Evanglicas que atuam com migrantes e refugiados no Brasil.

O propsito desse mapeamento foi identificar as organizaes, onde esto e o que fazem, favorecendo a visibilidade, representatividade e a oportunidade de fomentar aes em rede.

Quando um estrangeiro viver na terra de vocs, no o maltratem. O estrangeiro residente que viver com vocs ser tratado como o natural da terra. Amem-no como a si mesmos, pois vocs foram estrangeiros no Egito. Eu sou o Senhor, o Deus de vocs. (Lv 19.33-34)

Lanamento da Fase 1 do Mapeamento
Em junho de 2023, lanamos os resultados da Fase 1 do Mapeamento com grande alegria e gratido, ao identificar e reconhecer uma rede de igrejas, organizaes, coletivos e alianas crists evanglicas presentes em todo territrio nacional. Essas iniciativas tm se mobilizado para oferecer um atendimento expressivo populao de diferentes nacionalidades, refletindo o Reino de Deus na causa dos migrantes e refugiados.

Participaram nessa primeira fase, 105 instituies, sendo 52 Igrejas, 39 Organizaes da sociedade civil, 8 Alianas, redes e coletivos e 6 em outros formatos.

A grande maioria trabalha em parceria com outras organizaes para oferecer servios e assistncia populao refugiada e migrante. Cerca de 1.7 mil pessoas, entre funcionrios e voluntrios, esto diretamente envolvidas no trabalho dessas instituies, oferecendo e e atendimento a essa populao.

O Mapeamento tambm revelou que as instituies participantes atenderam indivduos de pelo menos 40 nacionalidades diferentes, com destaque para Venezuela, Afeganisto, Haiti, Sria, Angola, Colmbia e Cuba. Ao longo de 2022, as instituies realizaram aproximadamente 112 mil atendimentos diretos populao refugiada e migrante, presentes em 18 Unidades da Federao e 61 municpios do Brasil, demonstrando o impacto significativo de suas aes.

Lanamento da Fase 2 do Mapeamento
O cenrio migratrio, tanto mundial quanto nacional, que j apresentava grandes desafios, tornou-se ainda mais complexo, rduo e conflituoso em 2024. O governo brasileiro promulgou a Portaria 6 que apresentou novas regras para concesso de vistos humanitrios para nacionais afegos. Neste momento os vistos esto suspensos. No mesmo perodo, a Polcia Federal deflagrou operao para desarticular uma organizao criminosa no trfico de pessoas.

A crise poltica e econmica na Venezuela tem se intensificado, enquanto diversos pases permanecem imersos em guerras e conflitos armados, como Rssia, Ucrnia, Israel, Palestina, Ir, Lbano e Sudo. Naes africanas, como Nigria e Burkina Faso, tambm enfrentam ataques terroristas realizados por grupos radicais, agravando ainda mais a instabilidade. Paralelamente, a recente crise migratria nos Estados Unidos prev a deportao em massa de milhares de migrantes em situao irregular e a suspenso temporria do ree de fundos americanos destinados ajuda humanitria. Essa medida afeta diretamente a atuao de organismos como a Agncia da ONU para Refugiados (ACNUR) no apoio a migrantes venezuelanos em estados da regio Norte do Brasil, como Amazonas, e interrompe o envio de recursos para instituies como OIM, PRM e USAID.

Alm disso, as crises climticas tm contribudo de forma alarmante para o aumento do deslocamento forado, com efeitos devastadores em diversas regies do planeta, intensificando a vulnerabilidade de milhes de pessoas.

Em dezembro de 2024, lanamos os resultados da Fase 2 do Mapeamento e, mais uma vez, com imensa alegria e gratido, reconhecemos os trabalhos extraordinrios, realizados por um verdadeiro exrcito que no se permite retroceder, frente aos desafios do cenrio migratrio. Esses grupos seguem com as portas abertas, oferecendo boas-vindas aos migrantes e refugiados.

Nesta fase tivemos 103 respostas, sendo 88 instituies atuantes. Os dados coletados revelam que 15 instituies deixaram de atuar na temtica, sendo a maior parte de igrejas (11), seguido por 3 Organizaes e 1 Coletivo. Entretanto foram agregadas 21 novas instituies ao Mapeamento, demonstrando que a igreja evanglica segue atuante diante da causa do migrante e refugiado. So 116 mil atendimentos populao refugiada e migrante contemplando uma grande diversidade de atuaes, incluindo desde organizaes e igrejas que realizaram acolhimento a uma famlia refugiada ao longo do ano, at grandes projetos que contabilizaram milhares de atendimentos no ano.

As principais nacionalidades atendidas foram venezuelana (68 instituies), afeg (42), seguido de haitiana, cubana, sria e angolana

A atuao em rede segue sendo uma fora, pois a maior parte das igrejas e organizaes crists evanglicas respondentes (70%) declarou trabalhar com outras instituies parceiras.

Honramos e oramos pelas pessoas que, em diferentes estados e cidades brasileiras, tm se dedicado a essa misso. Que o Senhor fortalea, renove o nimo e prospere o trabalho de cada um. Reconhecemos ainda, os movimentos de orao por migrantes e refugiados que continuam incessantes, crendo no milagre do acolhimento em amor.

Agradecemos a participao das instituies participantes do Mapeamento, bem como o apoio dos parceiros: Movimento Como Nascido Entre Ns, Sociedade Bblica Internacional e Tearfund, alm da assessoria tcnica do ACNUR para a realizao desse projeto.

Convidamos voc a ar o site da Associao CASA com os resultados completos do Mapeamento de Organizaes e Igrejas Crists Evanglicas que desenvolvem aes de apoio a refugiados e migrantes no Brasil.

E se quer fazer parte do Mapeamento, clique aqui que entraremos em contato.
No fique fora desse movimento!

Siglas
SISMIGRA Sistema de Registro Nacional Migratrio
SISCONARE Sistema do Comit Nacional para Refugiados
Portaria Interministerial n 24, de 03 de setembro de 2021
ACNUR Agncia da ONU para Refugiados
OIM Agncia da ONU para as Migraes
Portaria Interministerial, MJSP/MRE no 42, de 22 de setembro de 2023
PRM Postos de Recrutamento e Mobilizao
USAID United States Agency for International Development

• Dbora Llia dos Santos Fahur diretora de programas sociais da Associao Casa.

Artigo publicado originalmente no site da Aliana Evanglica. Reproduzido com permisso.

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REVISTA ULTIMATO COMO VIVEM OS QUE TM ESPERANA
Com a matria Como vivem os que tm esperana, Ultimato quer colocar Cristo no centro e enfatizar que a vida dos que tm esperana atrai outros para a Esperana. Quer lembrar que a comunidade dos que tm esperana deve ser uma ponte para aqueles que am por necessidades, cuja esperana para o futuro no sustentada pela experincia de bno no ado, que no conheceram cura, ou f, ou prosperidade e que no tm esperana.

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Saiba mais:
Quando a Igreja Abraa a Cidade, Leandro Silva (org.)
Cristo, Nosso Reconciliador Evangelho, Igreja, Mundo, Terceiro Congresso Lausanne
Ningum escolhe ser refugiado ou nem sempre o que queremos dar o que as pessoas precisam, por Paula Mazzini