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27 de agosto de 2008
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Basquete e vlei: os protestantes e as Olimpadas 455u6w
Robinson Cavalcanti
Creio que todos ns brasileiros, lamentando a falta de polticas pblicas para a rea dos esportes, vibramos com a medalha de ouro conseguida pela nossa seleo feminina de vlei, a de prata pela seleo masculina, e com as boas apresentaes das equipes de basquete. Como a histria escrita pelos vencedores ou pelas maiorias (e no premia aqueles que no cultivam a prpria memria), ningum teve o interesse de se perguntar quem (e como) trouxe essas modalidades esportivas para o Brasil.
A verdade histrica que o basquete e o vlei foram introduzidos no Brasil pelos colgios protestantes no final do sculo 19 e incio do sculo 20. O Colgio 15 de Novembro, em Garanhuns, PE, onde estudei, o mais antigo educandrio evanglico do Nordeste, construiu a primeira quadra poliesportiva coberta naquela regio e sediou um campeonato nacional juvenil nos idos de 1959.
Os colgios protestantes (presbiterianos, metodistas, batistas, anglicanos e outros) foram pioneiros em muitos aspectos na educao nacional:
a) primeiras escolas mistas (para homens e mulheres);
b) primeiras escolas tcnicas profissionalizantes: agrcolas, industriais e comerciais;
c) introduo da disciplina educao fsica;
d) introduo do basquete e do vlei.
Ao contrrio da cultura ibero-catlica aristocrtica, valorizavam-se as mos, o corpo e o trabalho.
Essas escolas, que abrigaram, inicialmente, os filhos discriminados da minoria protestante, se abriram para a emergente classe mdia (de Gilberto Freyre a Ariano Suassuna) e concedeu bolsa a milhares de carentes. O ex-presidente da Repblica Itamar Franco (um rfo), conseguiu terminar os seus estudos secundrios graas a uma bolsa concedida pelo Colgio Metodista de Juiz de Fora, MG, por ser um excelente jogador de basquete.
As escolas protestantes estavam imbudas da ideologia do progresso (religio superior + democracia + progresso), o que levou o ex-presidente da Repblica Caf Filho a afirmar, em sua autobiografia: Aprendi a amar a Democracia na escola missionria de Natal (RN). O Movimento da Escola Nova buscou nesses colgios muito do que seria introduzido na educao pblica no Brasil.
O protestantismo de imigrao j estava no Brasil desde a Regncia: os ingleses, urbanos, com o comrcio e a indstria, e os alemes, rurais, com a agricultura; o protestantismo de misso, desde 1855, com a chegada do pioneiro pastor e mdico escocs Robert Reid Kalley. Essa fase (1810-1910) foi marcada por uma viso missionria de participao e influncia na cultura e nas instituies brasileiras, o que levou a minoria protestante a se envolver nas causas da Abolio, da Repblica e do Estado Laico. Em geral eles eram ps-milenistas (otimistas) ou a-milenistas (realistas) em escatologia.
Essa viso permaneceu nas propostas sociais, das pequenas bancadas evanglicas s Constituintes de 1934 e 1946, ao fomento de uma gerao de intelectuais nacionalistas e socialmente reformistas, ao trabalho aglutinador, conscientizador e proftico da Confederao Evanglica Brasileira (1934-1964), ao engajamento no incipiente sindicalismo rural do pr-64.
Com a importao das controvrsias teolgicas norte-americanas (evangelho social versus evangelho individual; liberalismo versus fundamentalismo), da escatologia pr-milenista/pr-tribulacionista; com a vinda de um pentecostalismo branco (isolacionista), que, ainda por cima, absorve aspectos legalistas, anti-corpo e anti-prazer do catolicismo de romaria no interior do Nordeste (hoje, com uma nova gerao lcida querendo mudar); com a Guerra Fria, com a ditadura militar, os protestantes brasileiros entraram em uma amnsia coletiva que afetou a sua identidade.
O divisionismo denominacional, a importao de toda novidade do estrangeiro e o fenmeno do pseudo-pentecostalismo (que nem evanglico, nem protestante) agravaram essa crise de identidade. As atuais geraes no conhecem seu ado (personagens, fatos, idias), nem suas bases teolgicas; no sabem quem so, nem para que servem (uma multido isolada, alienada e sem viso de participao). Seu crescimento numrico no tem alterado as mazelas nacionais, pois permanecem reduzidas s emoes, ao subjetivismo, ao individualismo, aos cultos-espetculos estrangeirizados.
O nosso ado onde podemos buscar o nosso futuro. O quadro atual pode e deve mudar.
O basquete e o vlei so, em muito, nossos. Os protestantes, mais do que todos, deveriam ter razo para comemorar!
Dom Robinson Cavalcanti bispo anglicano da Diocese do Recife e autor de, entre outros, Cristianismo e Poltica -- teoria bblica e prtica histrica e A Igreja, o Pas e o Mundo -- desafios a uma f engajada.
www.dar.org.br

A verdade histrica que o basquete e o vlei foram introduzidos no Brasil pelos colgios protestantes no final do sculo 19 e incio do sculo 20. O Colgio 15 de Novembro, em Garanhuns, PE, onde estudei, o mais antigo educandrio evanglico do Nordeste, construiu a primeira quadra poliesportiva coberta naquela regio e sediou um campeonato nacional juvenil nos idos de 1959.
Os colgios protestantes (presbiterianos, metodistas, batistas, anglicanos e outros) foram pioneiros em muitos aspectos na educao nacional:
a) primeiras escolas mistas (para homens e mulheres);
b) primeiras escolas tcnicas profissionalizantes: agrcolas, industriais e comerciais;
c) introduo da disciplina educao fsica;
d) introduo do basquete e do vlei.
Ao contrrio da cultura ibero-catlica aristocrtica, valorizavam-se as mos, o corpo e o trabalho.
Essas escolas, que abrigaram, inicialmente, os filhos discriminados da minoria protestante, se abriram para a emergente classe mdia (de Gilberto Freyre a Ariano Suassuna) e concedeu bolsa a milhares de carentes. O ex-presidente da Repblica Itamar Franco (um rfo), conseguiu terminar os seus estudos secundrios graas a uma bolsa concedida pelo Colgio Metodista de Juiz de Fora, MG, por ser um excelente jogador de basquete.
As escolas protestantes estavam imbudas da ideologia do progresso (religio superior + democracia + progresso), o que levou o ex-presidente da Repblica Caf Filho a afirmar, em sua autobiografia: Aprendi a amar a Democracia na escola missionria de Natal (RN). O Movimento da Escola Nova buscou nesses colgios muito do que seria introduzido na educao pblica no Brasil.
O protestantismo de imigrao j estava no Brasil desde a Regncia: os ingleses, urbanos, com o comrcio e a indstria, e os alemes, rurais, com a agricultura; o protestantismo de misso, desde 1855, com a chegada do pioneiro pastor e mdico escocs Robert Reid Kalley. Essa fase (1810-1910) foi marcada por uma viso missionria de participao e influncia na cultura e nas instituies brasileiras, o que levou a minoria protestante a se envolver nas causas da Abolio, da Repblica e do Estado Laico. Em geral eles eram ps-milenistas (otimistas) ou a-milenistas (realistas) em escatologia.
Essa viso permaneceu nas propostas sociais, das pequenas bancadas evanglicas s Constituintes de 1934 e 1946, ao fomento de uma gerao de intelectuais nacionalistas e socialmente reformistas, ao trabalho aglutinador, conscientizador e proftico da Confederao Evanglica Brasileira (1934-1964), ao engajamento no incipiente sindicalismo rural do pr-64.
Com a importao das controvrsias teolgicas norte-americanas (evangelho social versus evangelho individual; liberalismo versus fundamentalismo), da escatologia pr-milenista/pr-tribulacionista; com a vinda de um pentecostalismo branco (isolacionista), que, ainda por cima, absorve aspectos legalistas, anti-corpo e anti-prazer do catolicismo de romaria no interior do Nordeste (hoje, com uma nova gerao lcida querendo mudar); com a Guerra Fria, com a ditadura militar, os protestantes brasileiros entraram em uma amnsia coletiva que afetou a sua identidade.
O divisionismo denominacional, a importao de toda novidade do estrangeiro e o fenmeno do pseudo-pentecostalismo (que nem evanglico, nem protestante) agravaram essa crise de identidade. As atuais geraes no conhecem seu ado (personagens, fatos, idias), nem suas bases teolgicas; no sabem quem so, nem para que servem (uma multido isolada, alienada e sem viso de participao). Seu crescimento numrico no tem alterado as mazelas nacionais, pois permanecem reduzidas s emoes, ao subjetivismo, ao individualismo, aos cultos-espetculos estrangeirizados.
O nosso ado onde podemos buscar o nosso futuro. O quadro atual pode e deve mudar.
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