A mulher que desafiou o dito de Worms 4i3u3a

H exatos 500 anos, 26 de maio de 1521, uma reunio de lderes civis e eclesisticos conhecida como Dieta de Worms, decidiu por condenar Martinho Lutero priso e declarou criminosos todos aqueles que, seja por ato ou por palavra defendessem, sustentassem ou favorecessem o que foi dito por ele. O dito de Worms, outorgado neste dia por Carlos V, ainda determinava que Lutero fosse punido como herege, oferecendo uma recompensa a quem o denunciasse. O restante da histria narra o audacioso plano do prncipe Frederico para manter Lutero a salvo no Castelo de Wartburg enquanto este traduzia a Bblia dos originais para o alemo. Alguns seguidores de Lutero no tiveram a mesma sorte. A histria preservou os nomes dos monges Johann Esch e Heinrich Voes, queimados vivos em 1523 por desobedecerem o dito de Worms. Apesar da clara reprimenda aos seguidores de Lutero, mesmo durante o seu perodo de isolamento em Wartburg, suas ideias continuaram a ser divulgadas aumentando ainda mais o nmero de religiosos e leigos que compreendiam que a salvao s poderia ser alcanada pela f.

Embora pouco se fale sobre elas, as mulheres foram imprescindveis para a divulgao e preservao dos ideais reformados. Mulheres que atravs de atos considerados at de desobedincia civil, colocaram suas vidas em risco para defender opinies que adotaram como suas. Como representante das muitas mulheres que atuaram nesta frente de batalha, trago memria Argula Stauff von Grumbach. Nascida na Baviera, Argula tinha 29 anos quando o dito de Worms foi promulgado. Era casada com Frederich von Grumbach, governador de Dietfurt e me de dois filhos. Em 5 de fevereiro de 1522, em consequncia da Dieta de Worms, foi declarado proibido ler ou discutir qualquer ensinamento de Lutero na Baviera. Os professores da Universidade de Ingolstadt que utilizavam algum texto de Lutero em suas aulas foram forados a se retratar publicamente e demitidos de suas funes. Isto foi a gota dgua para Argula!

Munida de seu profundo conhecimento da Bblia e com uma lgica teolgica impecvel, Argula escreveu cartas para a direo da Universidade e para o Regente da Baviera solicitando explicaes para esse procedimento punitivo aos professores. Embora nunca tenha recebido respostas s suas cartas, estas foram publicadas como panfletos e divulgadas em vrios territrios, cidades e reinos da Alemanha. Argula tambm se correspondeu com os reformadores Lutero, Melanchthon, Espalatino e Osiander, estimulando-os a resistir firmes em seus ideais.

Como reprimenda s atitudes de Argula, seu esposo embora permanecesse fiel ao catolicismo, perdeu seu cargo de governador. A justificativa ao ato foi que este no foi capaz de impedir que sua esposa escrevesse, enviasse e publicasse cartas defendendo ideias reformatrias. Mesmo aps este incidente, Argula manteve-se sempre prxima aos reformadores, sendo inclusive quem aconselhou Lutero a se casar em 1525. Ele se referia a Argula como um instrumento especial de Cristo em sua vida. Argula um exemplo de mulher crist que se posiciona frente a situaes injustas e age corajosamente, mesmo ciente dos riscos a que se expe. Como ela mesmo afirmou: Mesmo se viesse a acontecer que Lutero negasse tudo o que disse, isso no mudaria em nada a minha opinio. Eu no construo a minha opinio sobre a opinio de Lutero ou de qualquer outra pessoa, mas sobre a verdadeira rocha: Jesus Cristo.

Lidice Meyer P. Ribeiro doutora em Antropologia e professora convidada na Universidade Lusfona, Portugal.