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Recentemente li As boas-novas da criao, um livro ainda indito de Juan Stam. O autor claro em sua linguagem, profundamente bblico em seu argumento e convincente em sua tese. Recomendo-o com bastante entusiasmo.

A tese central do livro que os propsitos de Deus (l-se misso) no que nos tange, envolvem toda a criao desde o incio at a sua renovao. Sendo assim a misso do povo de Deus (centralmente a tarefa de evangelismo) somente pode ser compreendida diante do pano de fundo maior dos desgnios redentivos de Deus para toda a criao. Em outras palavras, a misso socioambiental anda de mos dadas com a misso evangelstica, pelo menos na perspectiva bblica, e isto desde o incio at o final das Escrituras.

Certa altura e como parte do seu argumento maior, Stam faz referncia s vezes que a Bblia descreve Deus como trabalhador. So muitas. Comea com Gnesis 2-3 onde Deus formou (yatsar) Ado, semeou (natac) o jardim e construiu (banah) Eva do osso de Ado. Assim Deus assume os ofcios de oleiro, escultor (veja tambm Is 45.9; 64.8), agricultor e carpinteiro. Mas os exemplos no param em Gnesis. Ao longo das Escrituras, alm da linguagem militar (Deus Guerreiro, Deus dos Exrcitos...), e da linguagem familiar (Deus Pai, o seu cuidado maternal...), Deus descrito com a linguagem do mercado e da roa. o Deus trabalhador. At mesmo o stimo dia, quando Deus viu tudo que criou e o declarou bom, muito bom e ele ento descansou de tudo que criou, no reverte o padro anterior de trabalho. Ao invs de lazer e relaxamento, o descanso representa uma outra ao ou obra acima das outras obras, a obra de realeza e de governo. O Deus Criador tambm o Soberano acima de tudo e que governa tudo. Mas nem por isso para de trabalhar. A Bblia continua a descrever o seu papel de trabalhador. Ele estende os cus como cortina e monta a sua barraca (Is 40.22; Zc 12.1; J 37.18). Ele constri o mundo sobre colunas como um arquiteto ou pedreiro (1 Sm 2.8; Sl 93.1s; 96.10; 104.3). Sua a vocao de tecelo (J 10.11; Sl 139.13, 15) e de parteira (Sl 90.2; J 15.7; Rm 8.22).

O fascinante que os mesmos verbos que descrevem a vocao material de Deus descrevem tambm a sua ao de salvao (Is 43.21; 44.1s, 24; Jr 2.21; 11.17; 31.28; 2 Sm 7.27; Sl 89.3; 102.16s; 147.2). Isto sugere que o trabalho em si no exerccio meramente utilitrio ou econmico. O trabalho tambm contribui para os desgnios salvficos de Deus. Voc ter que ler o livro de Juan Stam para ver como ele desenvolve esta parte do seu argumento, mas acho que j identificou um aspecto importante e antes negligenciado da teologia bblica de misso. E se for correto (leia e julgue), isto tem implicaes para a maneira como ns, criados imagem e semelhana, concebemos e exercitamos os nossos diversos empregos. Trabalhar contribuir escatologicamente para o projeto de salvao que envolve o mundo inteiro.

Vou parar por a, no nvel s de sugesto e no de prova, para a sua considerao orante. Depois leia o livro e considere com mais embasamento bblico ainda. E assim, pense novamente a respeito da vocao para a qual Deus te chamou. E pea a Deus que voc possa contribuir mais ainda para o plano divino de salvao at que se revelem novo cu e nova terra.