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08 de abril de 2025
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A Confederao Evanglica do Brasil: um esforo por unidade 1y2p2s
A CEB nasceu em 1930 e reuniu denominaes tradicionais e grupos missionrios em torno de um projeto comum para o Brasil
Por Fernando Costa
Nos primeiros anos da Repblica, o protestantismo brasileiro experimentou um perodo de expanso e busca por unidade. J havia esforos notveis na mdia impressa, no rdio e na representao poltica dos interesses evanglicos, alm de cooperao entre igrejas e misses. Dentro desse contexto, a Confederao Evanglica do Brasil (CEB) surgiu como a consolidao desses movimentos.
Desde o incio do sculo 20, lderes como Erasmo Braga, Epaminondas Melo do Amaral, Miguel Rizzo Jnior, Vicente Themudo Lessa e outros debatiam, em peridicos como Cultura Religiosa, Sacra Lux e Lucerna, temas essenciais para a sociedade e a f protestante, como a educao, a condio da mulher e o analfabetismo. Esse ambiente de reflexo e ao impulsionou a criao de organizaes voltadas cooperao interdenominacional, como a Unio de Escolas Dominicais do Brasil (1911), a Comisso Brasileira de Cooperao (1916) e a Federao das Igrejas Evanglicas do Brasil (1931), que eventualmente convergiriam para a CEB.
A consolidao da CEB ocorreu aps o Congresso do Panam de 1916, evento que buscou fortalecer o protestantismo latino-americano, diante da ausncia de representantes da regio na Conferncia Missionria Mundial de Edimburgo (1910). No Brasil, Erasmo Braga emergiu como um dos principais articuladores desse movimento, impulsionando uma identidade protestante que combinava f, nacionalismo e engajamento social.
No incio dos anos 1930 com o objetivo de representar igrejas e organizaes protestantes no dilogo com a sociedade e o governo, nasceu a CEB. Ela funcionava como um centro difusor do pensamento protestante, promovendo debates sobre democracia, progresso e participao poltica. Seu impacto foi significativo, especialmente ao reunir denominaes tradicionais e grupos missionrios em torno de um projeto comum para o Brasil.
No entanto, o esforo pela unidade protestante naquele perodo enfrentou desafios. Alguns deles: a polarizao teolgica entre fundamentalistas e liberais, a diviso entre igrejas urbanas e rurais e as diferenas entre lideranas nacionais e missionrios estrangeiros corroboram para dificultar a pretendida coeso. Alm disso, com o avano do pentecostalismo nos anos 1960, essa tenso s aumentou. A divergncia de prticas entre igrejas tradicionais e carismticas tornou-se mais evidente, refletindo vises distintas sobre a ao do Esprito Santo na igreja e na vida crist. Essa diversidade, em seu modelo bblico, jamais poderia ser objeto de disputa, ainda que de forma positiva pudesse manter as diferentes experincias comunitrias.

A relao da CEB com o ecumenismo global tambm gerou controvrsias. Muitas igrejas filiadas mantinham vnculos com o Conselho Mundial de Igrejas (CMI), que promovia dilogo interdenominacional e projetos sociais. No entanto, o rtulo de "ecumenismo" ou a ser visto com desconfiana em alguns crculos evanglicos, especialmente no contexto da Guerra Fria, quando o ecumenismo era frequentemente associado ao comunismo.
Com o tempo, a CEB ou a promover espaos de debate e aes sociais, fortalecendo sua influncia entre os evanglicos mais engajados. No entanto, a crescente fragmentao denominacional e as tenses ideolgicas dentro do protestantismo brasileiro enfraqueceram sua representatividade. O golpe civil-militar-empresarial de 31 de maro de 1964 marcou um ponto de inflexo, levando represso de grupos protestantes socialmente engajados e limitando ainda mais o alcance da CEB. A dissoluo de suas lideranas foi um golpe na busca pela unidade de representatividade protestante na segunda metade do sculo 20. Essa lacuna foi preenchida pela massiva influncia e presena de organizaes e prticas missionrias e eclesisticas vindas do norte, por uma teologia com nfase no escapismo do caos, prosperidade financeira e pelo aparelhamento do discurso poltico que associou a ptria dos crentes ptria vigiada dos governos.
At sua dissoluo formal nos anos 1980, a CEB desempenhou um papel crucial na articulao do protestantismo no Brasil. Seu legado inclui a promoo da unidade evanglica, o fortalecimento do engajamento social das igrejas e a contribuio para o desenvolvimento de uma identidade protestante brasileira. Embora os desafios tenham sido muitos, a histria da Confederao Evanglica do Brasil evidencia os esforos de um movimento que buscou conciliar f e ao em um pas em constantes transformaes.
Este artigo parte do texto "Pautas da Confederao Evanglica do Brasil: a busca da unidade evanglica e o seu mtodo de leitura da realidade brasileira", publicado na Revista Unitas, v. 12, n. 2, 2024.
Imagem: James Gilbert.
REVISTA ULTIMATO COMO VIVEM OS QUE TM ESPERANA
Com a matria Como vivem os que tm esperana, Ultimato quer colocar Cristo no centro e enfatizar que a vida dos que tm esperana atrai outros para a Esperana. Quer lembrar que a comunidade dos que tm esperana deve ser uma ponte para aqueles que am por necessidades, cuja esperana para o futuro no sustentada pela experincia de bno no ado, que no conheceram cura, ou f, ou prosperidade e que no tm esperana.
disso que trata a matria de capa da edio 412 da revista Ultimato. Para , clique aqui.
Saiba mais:
A Caminhada Crist na Histria A Bblia, a Igreja e a sociedade ontem e hoje, Alderi Souza de Matos
O Novo Rosto da Misso Os movimentos ecumnico e evangelical no protestantismo latino-americano, Luiz Longuini Neto
O Evangelho em uma Sociedade Pluralista, Lesslie Newbigin
Por Fernando Costa

Desde o incio do sculo 20, lderes como Erasmo Braga, Epaminondas Melo do Amaral, Miguel Rizzo Jnior, Vicente Themudo Lessa e outros debatiam, em peridicos como Cultura Religiosa, Sacra Lux e Lucerna, temas essenciais para a sociedade e a f protestante, como a educao, a condio da mulher e o analfabetismo. Esse ambiente de reflexo e ao impulsionou a criao de organizaes voltadas cooperao interdenominacional, como a Unio de Escolas Dominicais do Brasil (1911), a Comisso Brasileira de Cooperao (1916) e a Federao das Igrejas Evanglicas do Brasil (1931), que eventualmente convergiriam para a CEB.
A consolidao da CEB ocorreu aps o Congresso do Panam de 1916, evento que buscou fortalecer o protestantismo latino-americano, diante da ausncia de representantes da regio na Conferncia Missionria Mundial de Edimburgo (1910). No Brasil, Erasmo Braga emergiu como um dos principais articuladores desse movimento, impulsionando uma identidade protestante que combinava f, nacionalismo e engajamento social.
No incio dos anos 1930 com o objetivo de representar igrejas e organizaes protestantes no dilogo com a sociedade e o governo, nasceu a CEB. Ela funcionava como um centro difusor do pensamento protestante, promovendo debates sobre democracia, progresso e participao poltica. Seu impacto foi significativo, especialmente ao reunir denominaes tradicionais e grupos missionrios em torno de um projeto comum para o Brasil.
No entanto, o esforo pela unidade protestante naquele perodo enfrentou desafios. Alguns deles: a polarizao teolgica entre fundamentalistas e liberais, a diviso entre igrejas urbanas e rurais e as diferenas entre lideranas nacionais e missionrios estrangeiros corroboram para dificultar a pretendida coeso. Alm disso, com o avano do pentecostalismo nos anos 1960, essa tenso s aumentou. A divergncia de prticas entre igrejas tradicionais e carismticas tornou-se mais evidente, refletindo vises distintas sobre a ao do Esprito Santo na igreja e na vida crist. Essa diversidade, em seu modelo bblico, jamais poderia ser objeto de disputa, ainda que de forma positiva pudesse manter as diferentes experincias comunitrias.

A relao da CEB com o ecumenismo global tambm gerou controvrsias. Muitas igrejas filiadas mantinham vnculos com o Conselho Mundial de Igrejas (CMI), que promovia dilogo interdenominacional e projetos sociais. No entanto, o rtulo de "ecumenismo" ou a ser visto com desconfiana em alguns crculos evanglicos, especialmente no contexto da Guerra Fria, quando o ecumenismo era frequentemente associado ao comunismo.
Com o tempo, a CEB ou a promover espaos de debate e aes sociais, fortalecendo sua influncia entre os evanglicos mais engajados. No entanto, a crescente fragmentao denominacional e as tenses ideolgicas dentro do protestantismo brasileiro enfraqueceram sua representatividade. O golpe civil-militar-empresarial de 31 de maro de 1964 marcou um ponto de inflexo, levando represso de grupos protestantes socialmente engajados e limitando ainda mais o alcance da CEB. A dissoluo de suas lideranas foi um golpe na busca pela unidade de representatividade protestante na segunda metade do sculo 20. Essa lacuna foi preenchida pela massiva influncia e presena de organizaes e prticas missionrias e eclesisticas vindas do norte, por uma teologia com nfase no escapismo do caos, prosperidade financeira e pelo aparelhamento do discurso poltico que associou a ptria dos crentes ptria vigiada dos governos.
At sua dissoluo formal nos anos 1980, a CEB desempenhou um papel crucial na articulao do protestantismo no Brasil. Seu legado inclui a promoo da unidade evanglica, o fortalecimento do engajamento social das igrejas e a contribuio para o desenvolvimento de uma identidade protestante brasileira. Embora os desafios tenham sido muitos, a histria da Confederao Evanglica do Brasil evidencia os esforos de um movimento que buscou conciliar f e ao em um pas em constantes transformaes.
- Fernando Costa mestre em histria social (UFMA) e em cincias das religies (FUV), foi missionrio na Misso Estudantil ABUB e pastor de igreja local. Atualmente dirige o Centro Evanglico de Misses, em Viosa, MG, e faz parte da liderana do Movimento de Lausanne no Brasil.
Este artigo parte do texto "Pautas da Confederao Evanglica do Brasil: a busca da unidade evanglica e o seu mtodo de leitura da realidade brasileira", publicado na Revista Unitas, v. 12, n. 2, 2024.
Imagem: James Gilbert.

Com a matria Como vivem os que tm esperana, Ultimato quer colocar Cristo no centro e enfatizar que a vida dos que tm esperana atrai outros para a Esperana. Quer lembrar que a comunidade dos que tm esperana deve ser uma ponte para aqueles que am por necessidades, cuja esperana para o futuro no sustentada pela experincia de bno no ado, que no conheceram cura, ou f, ou prosperidade e que no tm esperana.
disso que trata a matria de capa da edio 412 da revista Ultimato. Para , clique aqui.
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A Caminhada Crist na Histria A Bblia, a Igreja e a sociedade ontem e hoje, Alderi Souza de Matos
O Novo Rosto da Misso Os movimentos ecumnico e evangelical no protestantismo latino-americano, Luiz Longuini Neto
O Evangelho em uma Sociedade Pluralista, Lesslie Newbigin
Fernando Colho Costa historiador, telogo, cientista das religies e pesquisador do Protestantismo Brasileiro. Atuou como Assessor da ABUB, como pastor e hoje est envolvido na Gerao de Lderes Jovens do Movimento Lausanne. autor de Poltica, Religio e Sociedade: a contribuio protestante de Robinson Cavalcanti (Ed.CRV). Siga no Instagram: @fernandocoelhocosta. Conhea o Instituto Robinson Cavalcanti.
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